pandemia

Pandemia e a procura de um bode expiatório

Onde falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão, diz o velho adágio popular. A frase serve para ilustrar o atual quadro de pandemia em que a sociedade está a atirar pedras nas autoridades constituídas em busca de um culpado pelas mortes, pela falta de leitos hospitalares, pela falta de vacinas e insumos para sua aplicação em tempo recorde.

Atiram pedras no Prefeito que decretou o lockdown ou restringiu o uso das praias; atiram-nas no governador que mandou ficar em casa; dão pauladas no Presidente que mandou sair para produzir; dão estilingadas nos médicos que pregam o isolamento social; dão cacetadas nos economistas que pregam a necessidade de manter a economia andando; enfim, atiram pedras, e das grandes,  no Ministro da Saúde que não agiu com presteza nas importações de vacinas e insumos, deixou faltar oxigênio em Manaus, estimulou o tratamento precoce como se esse fato, por si só, tivesse o condão de atrasar a vinda das vacinas do exterior etc. Só faltou acusar o Ministro de ter provocado a mutação do vírus em Manaus enquanto inspecionava o local. E criticam-no porque, ao invés de ser um médico, é um general, como se o Ministro da Saúde fosse fazer cirurgias ou prescrever tratamentos médicos. O Ministro da saúde precisa conhecer o serviço público e entender de logística, o que um general entende muito mais que um médico. As reportagens sobre a vacina esquecem, invariavelmente, de mencionar o cronograma de recebimentos das vacinas divulgado pelo Ministério da Saúde, dando a impressão de que tudo está entregue ao “Deus dará”.

Quem, afinal, é o culpado? Nenhuma das pessoas que levaram as pedradas, cacetadas, pauladas e estilingadas, muito menos os Ministros do STF, acusados injustamente de alijar a União nas tarefas de combate à Covid-19.

 O único culpado é o coronavírus, hoje, Covid-19, que apanhou desprevenidos todos os líderes mundiais que ficaram, em um primeiro momento, sem saber o que fazer. Nenhum País estava preparado para a tragédia que se abateu sobre as populações do mundo inteiro.

Os Estados Unidos, a maior potência mundial, ficou meses sem uma ação concreta de combate ao coronavírus, tentando identificar a fonte do vírus na China, para saber se ele foi produzido em um laboratório chinês, como se isso fosse resolver alguma coisa! Até hoje, só dispõem de um único laboratório da Pfizer que iniciou a produção de vacinas somente no segundo semestre de 2020.

Nesse particular, o Brasil é um país privilegiado. Tem dois laboratórios de fama mundial: o Butantã em São Paulo e a Fio Cruz no Rio, que estão se esforçando para produzir vacinas para todos. No futuro próximo irão abastecer com vacinas os países do continente sul-americano.

Quanto ao número de mortes, o índice não é tão alarmante como tem anunciado a mídia, se levado em conta que o Brasil é o sexto país mais populoso do mundo com 211.855.692 milhões, só perdendo para o Paquistão (220.892.311 milhões); Indonésia (266.911.900 milhões); Estados Unidos (329.634.908 milhões); Índia (1.361.865.555 bilhão); e China (1.402.509.320 bilhão). Não é possível comparar o índice de mortes no Brasil com o de Portugal, por exemplo, cuja população é de apenas 10.211.362 milhões, isto é, menor do que a população da cidade de São Paulo. O certo é que nenhum país do mundo conseguiu evitar as mortes. Na Europa os óbitos aconteceram em número maior do que no Brasil proporcionalmente ao tamanho da população de cada país europeu, variando entre 10.000 milhões e 62.000 milhões.

E mais, a extensão territorial do Brasil dificulta a logística no transporte de vacinas e de insumos. Acidentes aéreos têm ocorrido nos transportes de emergência por pequenas aeronaves. Nem estas aeronaves conseguem chegar a todos os pontos do país, sendo necessário o emprego de transporte multimodal com a utilização de pequenas embarcações. São dificuldades próprias de uma país de extensão territorial imensa.

Atente-se que a China e a Índia estão exportando as vacinas que produzem, sem que as respectivas populações tenham sido vacinadas. Se a Índia e a China privilegiassem as suas populações, com certeza, teriam que interromper as exportações. Fico a imaginar as pedradas que iriam levar os dirigentes do Butantã e da Fio Cruz se resolvessem exportar as vacinas para os demais países do Mercosul para trazer divisas ao País, deixando os brasileiros ao desamparo!

Nesse cenário, como é possível a mídia ficar colocando a culpa no Ministério as Saúde? O Ministério tem culpa se os laboratórios da China e da Índia não conseguem produzir, a tempo, vacinas para os povos do mundo inteiro? Ter vacinas para todos ao mesmo tempo não uma questão de querer, nem de vontade política! Não há mágica para decuplicar a produção da noite para o dia. Isso é desejável, mas, não é factível!

É bom que pensem nisso, antes de ficar atirando pedras em todo o mundo. O Brasil é um país altamente privilegiado com dois grandes laboratórios de reconhecida competência internacional que nos causam muito orgulho! Pouquíssimos países do mundo podem dizer o mesmo.

É hora de atentar para os esforços conjuntos das autoridades e da laboriosa e corajosa classe médica, para conter a maior crise de saúde com providências simultâneas do Legislativo, do Executivo e do Judiciário.

O tão maltratado STF tem dirimido conflitos gerados pelo estado de pandemia com extrema brevidade e eficiência, contribuindo para o restabelecimento da harmonia entre os entes federados e entre os Poderes, indispensável ao efetivo combate à Covid-19 em âmbito nacional.

Enfim, as autoridades dos três Poderes e nas três esferas políticas estão fazendo o possível para minorar o sofrimento do povo brasileiro. É nessa hora de sofrimento generalizado que se nota a presença marcante do Estado socorrendo 40 milhões de pessoas vulneráveis vivendo abaixo da linha de miséria. Nos piores momentos da crise, o governo federal implementou com rapidez o Programa Emergencial de Manutenção da Renda e do Emprego, ajudando o país a minimizar o índice de desemprego, fonte maior de todos os problemas sociais. No momento em que estamos escrevendo este texto o Congresso Nacional está discutindo a PEC 186/2021 que reinstitui o auxílio emergencial aos 40 milhões de vulneráveis. São despesas da ordem de 44 bilhões, aumentando o nosso nível de endividamento.

Mais, não é possível exigir! É preciso que a mídia volte o seu foco para medidas positivas que as autoridades do País estão tomando, com vistas a oferecer menos sofrimento e dar o maior conforto possível, e sobretudo, manter viva a chama da esperança de dias melhores. Pintar o quadro de negro dia e noite, noite e dia, em nada irá contribuir para a superação dessa crise sem precedentes na história mundial.

Na pandemia do século passado, quando a gripe espanhola assolou o mundo em 1918 matando maios de 50 milhões de pessoas, não houve discursos negacionistas. Não é hora de fazer discursos negativistas, mas, é hora, sim de exorcizar o negacionismo.

Kiyoshi Harada

SP, 8-3-2021

Relacionados