testes de Covid-19

Testes de Covid-19 encalhados no Aeroporto de Guarulhos

Por falta de planejamento, estratégia e logística do Ministério da Saúde, 6,86 milhões de unidades de testes de Covid-19 importados e estocados em um armazém do Aeroporto de Guarulhos, no valor total de R$ 275 milhões, correm o risco de se transformar em um monte de lixo.

Esses testes já tiveram o seu prazo de validade prorrogado anteriormente por quatro meses, pela ANVISA, mas o Ministério ainda encontra dificuldades na sua distribuição à rede do SUS.

Aludidos testes – RT-PCR – é um dos mais eficazes para diagnosticar a Covid-19, pois detecta o vírus ativo no organismo.

O motivo do encalhamento desses testes que devem ser mantidos a uma temperatura de 20 graus negativos é a falta de insumos, como reagentes de extração do RNA das amostras, cotonetes “swab”, além da falta de máquinas modernas para processar as amostras de pacientes.

Outro problema é que os modelos de testes importados e encalhados não é compatível com parte da rede de laboratórios da Fio Cruz que está passando por adaptações ao produto.

Segundo ex Secretário Executivo do Ministério da Saúde, Adriano Massuda “não há estratégia nacional de testagem”. Ele atribui as falhas de planejamento e de logística ao desmonte da área técnica do Ministério. Afirma que “é uma mistura de despreparo, desconhecimento da complexidade de estrutura do SUS, da atuação interfederativa e arrogância”.

Desde o início a questão do combate à Covid-19 foi politizada, acirrando-se os ânimos entre o Presidente da República e alguns governadores de Estado mais proativos no combate à doença, com exposição na mídia de forma exagerada visando objetivos eleitorais. Os atritos entre o governador de São Paulo e o Presidente da República são quase que permanentes.

O fator político prevaleceu sobre o fator técnico e o resultado é essa bagunça que estamos vivenciando.

Governadores criticam a demora da ANVISA em liberar os registros. Só que os pedidos de registro das vacinas só deram entrada na ANVISA no último dia 8 de janeiro. O da Fio Cruz passou pela triagem dos documentos considerados suficientes, prosseguindo-se na análise de fases posteriores. Em relação ao pedido do Instituto Butantã, entretanto, a ANVISA fez exigências para a apresentação de documentos complementares.

A divulgação pela grande mídia desse tipo de crítica infundada gerou até uma ação da OAB perante o STF para que seja autorizada a importação de vacinas registradas em órgão regulador de renome. O STF deferiu o pedido da OAB para autorizar a importação caso a ANVISA não libere o registro no prazo de dez dias, a contar do recebimento do pedido.

Ora, como liberar o registro se ninguém deu entrada do pedido na ANVISA?

Tudo indica que há um movimento orquestrado para manter a semente da confusão e criar atritos entre as instituições e provocar desconfortos entre as autoridades federais e estaduais.

A Covid-19 está sendo usada politicamente para desprestigiar eleitoralmente determinadas pessoas e fazer crescer outras.

As eleições municipais de novembro passado são provas disso. Candidatos que não se empenharam no combate à pandemia não foram eleitos ou reeleitos. Aqueles apoiados pelo Presidente Jair Bolsonaro, que a mídia o elegeu com protótipo de pessoa pouco empenhada no combate à doença, fracassaram redondamente.

É lamentável que em um momento de tamanha gravidade haja disputas políticas em torno da Covid-19, quando o certo seria a união de forças entre as autoridades das três esferas políticas e dos três Poderes para dar combate efetivo e eficiente a essa persistente doença que já dura quase um ano.

O número de ações perante o STF relacionadas direta ou indiretamente com a Covid-19, inclusive, a vacinação é sinal indicativo da falta de harmonia na atuação das autoridades governamentais federais, estaduais e municipais. Falando em vacinação, a falta de logística fez com que faltassem seringas e agulhas suficientes para a aplicação de todas as vacinas disponíveis até o momento.

Para agravar o quadro, o Presidente Jair Bolsonaro suspendeu a importação de seringas e agulhas alegando alta de preços, dias após ter zerado a alíquota do imposto de importação incidentes sobre esses insumos.

Por fim, o Ministério da Saúde fez requisição administrativa de seringas e agulhas adquiridas pelo governo do Estado de São Paulo. A PGE ingressou com ação no STF e o Ministro Ricardo Lewandowski concedeu a medida liminar determinando a devolução dos insumos eventualmente recebidos, no prazo de cinco dias.

E assim um novo impasse surgiu, o que poderá comprometer o programa nacional de vacinação, que finalmente foi divulgado pelo Ministério da Saúde após embates com o STF, para ter início a partir do dia 20 de janeiro.

É simplesmente lamentável! Como dizia Monteiro Lobato “infelizmente, ou felizmente, o mundo é o que é. Jogo de interesses pessoais que se chocam”.

Por Kiyoshi Harada

SP, 11-1-2021

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